A cientista Jennifer Doudna, co-responsável da descoberta da tecnologia de engenharia genética Crispr-Cas9, dá sua visão otimista sobre os impactos da COVID-19 no campo da Ciência.
Como raramente na história, todos os holofotes estão focados na Ciência.
O efeito devastador da pandemia por COVID-19 sobre todos os aspectos da sociedade é o responsável por este interesse pela Ciência.
A mídia tradicional (não especializada) está saturada de entrevistas com cientistas e médicos na busca do melhor entendimento sobre a doença, suas formas de transmissão, métodos de prevenção e tratamento, e o estágio de desenvolvimento da, tão sonhada, vacina contra a Sars-Cov-2.
A Ciência nunca esteve tanto em evidência.
Em recente artigo da The Economist, a cientista Jennifer Doudna que participou da descoberta da tecnologia Crispr-Cas9 deu sua opinião de como estamos vivendo um ponto de virada (para melhor) para a Ciência.
Ela cita no artigo um conceito descrito por Thomas Kuhn em seu livro “The Structure of Scientific Revolutions” (em tradução livre, A Estrutura das Revoluções Científicas) de 1962: the paradigm shift (em tradução livre, a mudança de paradigma).
Este conceito nos fala que há um acúmulo de barreiras para um suposta verdade, até que de repente, ultrapassa o ponto de aceitação e a verdade é aceita.
Para Doudna estamos vivendo um momento em que isto está acontecendo.
“Sometimes there’s a long period of time without a lot of change, and then things accumulate and suddenly there’s literally a revolution that changes everybody’s thinking, that alters the way we understand our world. I think we’re in that moment right now.”
Em tradução livre:
"Às vezes, há longos períodos de tempo no qual não há muitas mudanças, então as coisas acumulam e, de repente, literalmente, há uma revolução que muda o modo de todos pensarem, que alteram o maneira com entendemos o nosso mundo. Eu acho que nós estamos neste exato momento."
Segundo Doudna, há três formas que a pandemia por COVID-19 está afetando o status quo da comunidade científica:
A evidência que a mídia tradicional está dando para a Ciência, podem atrair novos talentos, uma vez que os jovens podem se interessar por seguir carreira profissional na área de Ciências.
Ela também aponta que podem haver benefícios nos apoio financeiro a pesquisas científicas:
If ignorance and fear can be supplanted by trust in scientists and the scientific method, we could see a long-term change in public attitudes—and public investment.
Em Tradução livre:
Se a ignorância e o medo puderem ser substituidos por confiança nos cientistas e no método científico, nós poderíamos ver um mudança de longo prazo nas atitudes públicas - e investimentos públicos.
Devido o senso de urgência por novas descobertas sobre a COVID-19, muitos cientistas tem abordado o uso de versões "pre-print" das suas descobertas em plataformas como bioRxiv.org e medRxiv.org.
Normalmente pesquisadores submetem seus resultados para publicação em renomadas revistas cientificas. No entanto, até que sejam publicadas elas passam por avaliação de outros pesquisadores (peer-review) e várias revisões, antes de serem aceitas e publicadas. Este processo, usualmente, demora meses.
Cabe aqui, uma observação: apesar do benefício de uma informação mais rápida, há um malefício que é o possível questionamento sobre a qualidade do artigo. Muitas revistas científicas possuem critérios de publicações bastante rigorosos para garantir a qualidade e a confiabilidade do artigo publicado. Estes artigos "pre-print" não passaram por estes critérios.
Com estas ressalvas, o acesso rápido e aberto as pesquisas científicas irão melhorar a comunicação da Ciência e o envolvimento de não-cientistas, tais como a mídia e opinião pública.
Este aspecto vai acelerar os avanços na Ciência. Doudna diz:
This kind of multi-institutional group usually takes months if not years to build. But clearly it can happen much faster, to everyone’s benefit, if barriers such as intellectual property are removed and there is a sense of shared urgency to solve critical global issues.
Em tradução livre:
Grupos multi institucionais geralmente demoram meses, até anos, para serem construídos. Mas, claramente, pode acontecer muito rápido, para o benefício de todos, se barreiras como propriedade intelectual sejam removidas e haja um senso comum de urgência para resolver problemas críticos globais.
Em tempos de pandemia por COVID-19, está havendo uma colaboração científica global sem precedentes.
Ha um banco de dados, Nextstrain que mostram mais de 3000 sequenciamentos genéticos do Sars-Cov-19, provenientes de informações fornecidas por pesquisadores do mundo todo. Este banco de dados possui informações essenciais para o desenvolvimento de uma vacina eficaz.
Enfim, esta havendo uma colaboraçào de cientistas, instituições, universidades, empresas privadas, hospitais e países.
Uma colaboração global.
Quando tivermos uma vacina eficaz e a pandemia virar apenas passado, poderemos ter uma nova Ciência.
We are being pushed by circumstances to conduct research at a speed, scale and scope that I’d only ever seen in books and films. We’re releasing data as soon as we have it, we’re collaborating across disciplines and time zones, and the public is counting on us. A new era of science is emerging.
Em tradução livre:
Nós estamos sendo empurrados pelas circunstâncias, para conduzir as pesquisas em uma velocidade, escala e escopo somente anteriormente vistas em livros e filmes. Nós estamos liberando dados assim que os possuimos, estamos colaborando entre disciplinas e fusos horários e o publico esta contando conosco. Uma nova era da Ciência está surgindo.
E para você? Qual será o impacto da pandemia no futuro das Ciências?
Deixe sua opinião nos comentários.
Jennifer Doudna on how covid-19 is spurring science to accelerate por Jennifer Doudna no site The Economist
3 ways science will never be the same after COVID-19 por Robert Hackett no site Fortune
Plataforma bioRxiv.org
Plataforma medRxiv.org